sábado, 9 de janeiro de 2021

 no antro da maldade,

do sofrimento,

do pesar,

do penar,

no antro dessas coisas todas inacreditávelmente más,

sinto uma paz misturada com mágoa.


relembro-me, sem parar,

de ti.


do quanto sofreste,

do quanto amaste,

do quanto sonhaste,

e do quanto, em mim,

deixaste tudo aquilo que querias.


pai,

quem me dera que aqui estivesses para podermos partilhar as coisas mais insignificantes da vida,

mas também as mais importantes.


é por ti que continuo,

é por ti que continuamos.


(a depositar imensa pressão sobre ti, sobre o teu legado, a tua pessoa, o teu riso, o teu amar)


a viver por ti,
para ti.

tu, sim, 
o meu eterno amor.

 leio um livro,

chamado "misteriosamente feliz",

do poeta joan margarit.

e só consigo pensar 

quão apetecível é guardarmos a nossa felicidade em segredo,

para nós.


vou guardar a minha felicidade,

a tua,

a nossa,

passada felicidade,

para mais tarde relembrar,

que tudo o que é bom acaba

mas que tudo o que é mau também.

 ainda sonho,

sonho com muitas personagens.

umas vivas,

outras mortas,

porque de certa forma,

de qualquer forma,

a morte é um espelho da vida,

e que mal tem sonhar com 

vivos?

que mal tem sonhar com 

mortos?


ainda (te) sonho,

ainda (te) toco,

ainda (te) falo.


e mesmo a uma distância insignificante

e ultrapassável,

prefiro sonhar(-te).


 se eu te contasse,

que os tempos passam,

os anos,

os carros,

os ventos,

as cidades,

as folhas das árvores caem...


se eu te contasse,

que tudo isso acontece,

e que continuo sentada,

no mesmo lugar do sofá,

à espera que apareças...


se eu te contasse,

que o mundo continua 

e eu permaneço...


como te sentirias?